RIO - Reunido com outros atores do núcleo cômico de "Aquele beijo" - nova trama de Miguel Falabella que estreia amanhã, às 19h, na Globo, trazendo de volta ao horário o peculiar humor do autor -, Diogo Vilela é o primeiro a reconhecer:
- Eu estava pensando em casa, antes desta entrevista, como todo comediante é sério e não fica fazendo piada o tempo todo.
Ao lado de Diogo estão Bruno Garcia, Stella Miranda e Sandro Christopher. Eles concordam com a afirmação do companheiro de cena. Abrigados no cenário que reproduz um restaurante português, o Sonho D'Aveiro, no Projac, os atores discorrem sobre seus papéis cômicos no folhetim, enquanto esperam a chegada de Claudia Jimenez. Parceira de longa data de Falabella, ela tem papel de destaque na comédia romântica.
O grupo está quase terminando a entrevista quando é informado de que a atriz não chegará a tempo. As caras se fecham. Preocupados com o horário, os atores pedem para serem logo fotografados. Tema da conversa, o humor parece ter escapado dali. Só vai dar sinais de que ainda está presente minutos depois, durante a sessão de fotos, na qual um deles sugere abrir um espaço no meio do grupo para que a imagem de Claudia seja inserida, posteriormente, numa montagem.
Já na ficção, o riso nem de longe está ameaçado. Terceiro folhetim de Falabella para a faixa das 19h e o quarto dele na emissora, "Aquele beijo" tem direção-geral de Cininha de Paula e traz para o vídeo um time de feras em comédia que inclui ainda Luis Salém, Ernani Moraes, Bia Nunnes, Elizangela e Maria Gladys. O autor é o primeiro a avisar que seu bem-humorado texto irá permear todas as tramas. Até mesmo a história de amor protagonizada por Giovanna Antonelli e Ricardo Pereira.
Cláudia, mocinha interpretada pela atriz, sonha casar de véu e grinalda com o namorado da adolescência, Rubinho (Victor Pecoraro). Num desses acasos, ela esbarra em Vicente (papel de Ricardo), jovem ainda apaixonado pela ex, Lucena (Grazi Massafera). Os dois viverão, claro, encontros e desencontros.
Novela é ficção. Um personagem filho da mãe serve para gerar
discussão. A TV ganhou um papel educador, mas ninguém acha que uma novela de
humor das 19h tem como única função formar um povo
- O meu papel é o mais politicamente incorreto da trama. Ele é agressivo, ignorante, não vale nada. Por outro lado, possui uma ingenuidade que também lhe dá uma candura - explica Diogo.
O ator tem noção da responsabilidade que é incorporar um tipo casca-grossa em tempos de forte discussão sobre os limites do humor:
- A gente está vivendo uma época que é quase uma inquisição. As redes sociais estão virando algo fascista e viraram subgrupos. Se você não faz parte de nenhum deles, apanha.
Para Stella, as pessoas estão levando tudo muito a sério. A atriz, que esteve nas duas primeiras novelas de Falabella - "Salsa & merengue" (1996) e "A lua me disse" (2005) - e interpretou a síndica Dona Álvara, em "Toma lá, dá cá", salienta que hoje tudo pode gerar polêmica:
- Não sei mais o que ofende e o que não ofende. Pode falar negro? Pode falar crioulo?
Estreante em uma trama de Falabella na TV, Bruno Garcia tem experiência no gênero humorístico. O ator trabalhou este ano com o escritor na peça "A escola do escândalo" e, agora, tem a missão de interpretar um tipo considerado difícil por ele: o médium que ajuda a prima em sua farsa. A personagem de Claudia Jimenez, Mãe Iara, é uma falsa vidente. Apesar das cenas dos dois praticamente funcionarem como esquetes dentro da novela, Garcia diz que está ali a serviço da dramaturgia. Não apenas da piada.
Limite a gente traz de casa, pai e mãe é que dão. Eu já fiz
muita besteira na vida. Em "Toma lá, dá cá", chamei a Bozena de
autista e, depois, pedi desculpas
- Novela é ficção. Um personagem filho da mãe serve para gerar
discussão. A TV ganhou um papel educador, mas ninguém acha que uma
novela de humor das 19h tem como única função formar um povo, não é? -
questiona o ator.
Escolado, Falabella afirma não se policiar tanto ao mexer num campo minado definido por ele mesmo como alta comédia.
- Este é o problema de escrever num país onde a educação não avança. Eu acredito que as pessoas são capazes de entender a essência do que quero dizer. Limite a gente traz de casa, pai e mãe é que dão. Eu já fiz muita besteira na vida. Em "Toma lá, dá cá", chamei a Bozena de autista e, depois, pedi desculpas. As pessoas também criticavam as personagens negras que queriam alisar o cabelo em "A lua me disse" - recorda ele, um autor geralmente habilidoso na arte de se comunicar com as massas: - Tenho orgulho de ser um artista popular e sou por opção. Poderia fazer uma linha cabeça. Mas não tenho baixa autoestima intelectual.
"Aquele beijo" resgata o Falabella das crônicas escritas por ele nos jornais. Depois da malsucedida "Negócio da China" (2008), exibida às 18h, o autor terá a chance de contar uma história para o público das 19h, ávido por uma gracinha.
- O meu humor não é o da piada, mas vejo a vida por uma ótica particular. O ser humano é patético nesta busca pela felicidade e sempre há algo risível em qualquer tipo de situação - analisa.
É o caso de Bob Falcão. O tipo interpretado por Sandro Christopher imita o rei do rock, se apresenta para meia dúzia de gatos pingados e sabe que nunca será um sucesso.
- Bob é extremamente patético. O personagem é exagerado, mas não é construído na caricatura. Miguel não trabalha dessa forma- revela Sandro, em seu quinto trabalho com Falabella.
Diogo, que trabalhou recentemente na TV com o escritor em "Toma lá, dá cá", tenta classificar os tipos que veremos no ar a partir de amanhã:
- Os personagens do Miguel não são maniqueístas. São pessoas com todas as suas idiossincrasias.
1 comentários:
Uma reportagem maravilhosa para celebrar a estreia de "Aquele Beijo"
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